Músicas que Inspiram Resistência – Alienação Afrofuturista

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Alienação Afrofuturista

“Um projeto com o feeling do Bass Culture brasileiro.” essa é uma das definições encontradas para Alienação Afrofuturista, o MC/Toaster e compositor, representado pela figura de Alessandro Ramos. E a Pangea Narrativas convidou o artista para contar sua história e nos iluminar com sua playlist “Músicas que Inspiram Resistência”.

Músico desde o início dos anos 2000, saiu de Terra Roxa, interior do Paraná, e passou por várias cidades antes de se estabelecer em Curitiba, onde em 2009, criou seu principal projeto. Alienação Afrofuturista, começou, então, a ganhar força na cidade, viajando pelas influências jamaicanas do dub, reggae e rap, misturadas aos ritmos pesados do steppa, dubstep e bass music londrinos.

Suas líricas representam a luta da resistência preta no sul do Brasil, abordando temas políticos, do cotidiano, amores e força racial.

Seu mais recente lançamento, “Resistência à Flor da Pele”, é fruto de uma parceria com o Osas Destiny, artista nigeriano que reside na capital paranaense desde 2018. Pensando nisso, decidimos convidar o Alienação para montar uma playlist com músicas que ele curte com o tema “Músicas que inspiram resistência”, confira a playlist e a entrevista que fizemos com ele para saber como foi o processo de construção da coletânea e suas visões de mundo como artista preto!

ENTREVISTA

Pangea Narrativas – Como foi o processo de construção da playlist “Músicas que Inspiram Resistência”?

Alienação Afrofuturista – O processo foi o seguinte: eu sempre tento pesquisar os lançamentos da semana, de diferentes estilos. Esse mês teve bastante lançamento, e fiquei atento em relação a isso. Além disso, eu quis trazer umas coisas antigas sabe? Então, por exemplo, coloquei alguma coisa de OBF que é francês, coloquei um Fela Kuti, sabe? Eu quis dar uma misturada entre as novidades e músicas do passado. Além disso, tem um roteiro também, pra quem for escutar a faixa da primeira música até a faixa 19, vai sentir um contexto sobre as letras e tudo mais. A pesquisa foi essa, trazer sons novos e misturar com sons velhos, mantendo um roteiro.

Pangea Narrativas – Qual a importância da música no seu processo de autoconhecimento como artista preto?

Alienação Afrofuturista – Pra mim é um escudo, mano, a música preta pra mim acaba se tornando uma espécie de escudo. Ela me deixa falar mais, ela me defende mais também… Algo do tipo: se eu não tivesse a música e esse repertório de artistas pretos diferenciadores, talvez eu não tivesse a força que tenho hoje. Algumas pessoas, podem até achar que a gente é fraco, mas a gente é forte pra caralho e a música com certeza é um combustível pra gente, um escudo.

Pangea Narrativas – Como a música pode inspirar a juventude a lutar por mudanças?

Alienação Afrofuturista – Acho que a música na juventude pode trazer desde o protesto de George Floyd estampado em um disco, por exemplo, até algo que tente transmitir paz.

A música tem sua função de conversar com o jovem, né!? Pode ser algo mais rebelde, pode ser através do amor… Acho que a música tem que causar isso na juventude. Música de mensagem, a gente tá falando aqui de música de resistência e música que traz mensagens. Então é isso cara, a música preta traz mensagem desde quando ela é música preta, mesmo sendo instrumental. A música preta instrumental, feita antigamente nos Estados Unidos, o Jazz, por exemplo. Nele você é capaz de perceber os sentimentos. Então, a música se comunica com os jovens e com a população, através de sentimentos. Despertando sentimentos, seja de amor, seja de ódio.

Pangea Narrativas – Essas músicas fazem parte do seu processo criativo? De que forma elas inspiram suas composições?

Alienação Afrofuturista – Acredito que a minha influência, baseado nessas músicas, é muito na parte visual, sabe? Têm alguns artistas que eu gosto de ver, às vezes, mais do que ouvir. Isso acaba influenciando muito meu processo de escrita. Acredito que 50% das minhas composições vêm de visões, não só da influência sonora. Então, é uma inspiração de algum outro clipe, documentário, jornal, televisão, ou dos canais toscos, tá ligado?

Uma parte vem da música e uma parte vem do que eu enxergo. Se eu descubro um artista novo de colagem, ou um artista novo de estêncil, sei lá, da Rússia, isso me interessa e isso acrescenta no meu som pra caramba. Então acho que além das músicas que eu coloquei aqui, também há um lance visual . Se você observar, alguns clipes são bem impactantes e isso faz muito parte do afrofuturismo, que é uma coisa de trazer o personagem negro pro principal, pro topo. E misturar tudo, misturar passado, presente e deixar ele como protagonista sempre. O bagulho é bem loco cara.

Pangea Narrativas – Em um dos seus últimos lançamentos, Resistência à flor da pele, você toca nessa questão da luta racial. O que é “resistência” pra você?

Alienação Afrofuturista – Cara, resistência pra mim é tipo, acordar todo dia. Agradecer onde você tá, o que você tem e, mano, fazer o que eu vim fazer, sacou? Resistência é o grito dos nossos antepassados, e a gente tá aqui agora, por conta do grito deles, de séculos atrás. Esse lançamento, por exemplo, eu fiz junto com o Osas, um mano que saiu da Nigéria e chegou ao Brasil em condições bem fodas…veja como ele tá hoje. Então essa música é quase uma oração de resistência. Resistência é isso. É respirar fundo e poder ajudar quem você puder ajudar, porque é assim que a resistência se mantém firme. Tipo, às vezes você tá bem, mas um irmão que tá próximo pode não estar . Se você conseguir passar algo pra ele, você não vai tá apenas o fortalecendo, mas também exercendo a resistência.

Pangea Narrativas – Você acha que os artistas pretos têm as suas vozes/músicas valorizadas pelas sociedade brasileira em geral?

Alienação Afrofuturista – No geral, acho que não. A música preta é valorizada pelos próprios pretos e por uma pequena parte da sociedade branca. Por exemplo, você não vê a música preta em si, tocando nas rádios, comerciais de TV, filme, etc. A música preta é específica, para determinado momento ou situação, mas ela não é escutada de uma forma abrangente. A música preta não é uma coisa popular do Brasil. Se a pessoa acha que é , ela tá um pouco equivocada. A música preta brasileira é perrengue, pra ela chegar nos ouvidos, é uma luta muito forte. Eu acredito que seja um começo, existe um começo de apreciação da música brasileira preta agora, pode ser que nesse período mais difícil ela seja mais ouvida, mas ainda acho que a música preta é carente de ouvidos em seu próprio país.

Ainda assim, a música preta continua fazendo o papel dela, e com certeza, os mestres que vieram no começo tiveram que pegar um caminho mais duro pra chegar onde chegaram. A gente precisa manter o legado desses mestres. Mas sobre essa geração atual, que eu acho que é mais preguiçosa e tem tudo na mão, não estou por dentro do que está acontecendo, porém acredito que o caminho é ter cada vez mais artistas que toquem o dedo na ferida. A música preta tem que expressar essa raiva que existe, tem que abordar temas difíceis, isso faz acordar a galera.

Ouça agora: Músicas que Inspiram Resistência!

Alienação Afrofuturista é música de alerta

Gostaríamos de agradecer o Ali pela playlist e pelo tempo que se dedicou para prepararmos esse material! A playlist está disponível no Youtube, no Deezer e no Spotify da Pangea. Acompanhem o trabalho do Alienação Afrofuturista e até a próxima!!